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  • Foto do escritorTieta Macau

Revisitando o 3.0 ou trinta anos se passaram e agora é 3.1

* Notas sobre o texto: ele foi escrito nas vésperas do dia 09 de novembro do ano passado (2019) e estou postando um pouco depois do dia 09 de novembro deste ano atual (2020). Queria que tivesse ido com a data de ontem, mas o hoje pediu para si a postagem.



TRINTA ANOS SE PASSARAM!!




E a mensagem antes da virada: “Convença-se que o mundo não é um parque de recreio: é um ambiente de trabalho! Não é um feriado que nos tenha sido dado para repousar, mas um curso de aprendizado intensivo. Procure aprender a amar indistintamente, e verá a felicidade morar em seu coração. Viva dando um exemplo de amor em todas as suas ações!”

Amar… não é uma tarefa fácil, e por sinal a retomada de governos de extrema direita nos força a cada dia a reaprender amar para o que em nós brota, não seque. Objetiva é a meta deles em dizimar o amor e toda a possibilidade de acordo entre as diferenças. A mensagem da virada na verdade é a tarefa mais difícil e necessária da civilização contemporânea.

Peço todas as licenças e agradeço aos meus ancestrais: os donos do meu Ori que contribuem e auxiliam a minha caminhada, agradeço por todo o asé. Aos meus mais velhos avós, raízes primeiras a quem muito devo boa parte do que sou. Às minhas mães (tenho algumas)…as de santo, a avó, a tia, a mãe. Engraçado que agora, a cada vez que olho pra trás eu aprendo um pouco mais do que achava que aprendia quando criança. Aprendi a olhar as dores dessas mulhres-mães… hoje eu sei que as mulheres da minha família nunca se permitiram sentir dor ou demonstrar fraqueza. Sempre que algo pode doer, elas seguem firme. Eu nunca vi minha mãe chorar… nenhuma delas. Eu nunca soube da tristeza em seus olhos, quando a comida nos faltou, quando papai nos deixou ou quando a mão do macho carrasco pesou… ou mesmo quando quase não tivemos onde ficar, ou quando lhe disse duras palavras. Eu nunca vi tristeza em seus olhos. De nenhuma das mães. Ouvi palavras duras, sorrisos… a certeza de que algo daria certo. Fé. Lágrimas, nunca. Elas esconderam bem, ou eu aprendi a olhar melhor, porque enxergo um pouco mais os molhados de seus olhos. Assim eu agradeço… porque sei que descendo dessa força e como o continuar da ancestralidade não é fixo, caminhei um pouquinho mais e sei que posso chorar, fazer as águas da Oxum lavarem meus olhos e ainda assim ver a força se fazer.

Eu cuido de muitas plantas… aqui tem brotos, plantas pequenas, rasteiras, de flor, de cura… plantas árvores de raízes grossas e profundas ou de raízes ainda a aprofundar-se. Quem cuida de planta sabe, que quando a gente fica um pouco sem tempo de cuidá-las, algumas morrem, outras ficam meio amuadas, em algumas crescem ervas daninhas e outras conseguem se manter por bastante tempo a espera do cuidado. Eu cuido de muitas plantas… agora novas se chegaram ao jardim, é um novo ciclo se fazendo. Estou aprendendo a lida de jardinagem, é uma meta de primavera.

Parabéns pra mim!! Parabéns!!

Vou aproveitar por que o único dia que temos livre licença para sermos egocêntricos, é o dia do nosso aniversário, inclusive o sol está alinha-se conosco de acordo com o nosso nascimento. Então desculpem-me todes mas vou aproveitar e falar. Na verdade escrever e a ler. E isso pra mim é antes de tudo uma tarefa de enfrentamento. Pois por muitos anos muitos de mim não puderam aprender a simples tarefa de escrever e ler, e como todo bom sistema colonizatório, esses muitos de mim tiveram seus saberes orais e saberes em corpo, dizimados ou colocado enquanto saberes menores, apenas por não se organizarem numa sequência de letras registradas em papel. Agora me parabenizo pensando no coletivo que sou, sei muito bem organizar as sequências de letras num papel e sei seguí-las. Contudo, isso não fez ou faz de mim uma jardineira melhor! Outras coisas me ensinam muito mais sobre jardinagem. Ainda assim, sigo aprendendo a ler pra ensinar meus camaradas… leio e escrevo e se possível faço muitos me escutarem, é uma forma dar som as vozes de muitas Anastácias.

Parabéns pra mim, parabéns! Resisti bem até aqui, mesmo tendo passando por inúmeras violências por ser um corpo visto enquanto mulher, negra, lésbica e pobre.. Sim sou uma corpa entre, que vem de uma situação de pouquíssima grana, não posso e não quero esquecer que já teve como alimento angu de farinha, numa casa de teto caindo, e ainda assim por vezes me sentia feliz. Tinha fartura de alegria. Não posso deixar de lembrar que no sistema racista, genocida que é o Brasil, chegar aos 30 - agora 31 - com passos dados na “acadimia”, na arte, na macumbaria e consciente de onde venho, o que quero e como devo proceder pra continuar, é uma tarefa que merece felicitações.

Enfim, 30 anos se passaram e sou o que sou por que muitos e muitas estiveram comigo, sei que muitas ainda estarão e agradeço, agradeço, agradeço, a todas as energias e pessoas envolvidas na construção da pessoa que sou.

Parabéns pra mim, e aos 30 anos da estreia de Tieta do Agreste - que por mais que eu tenha várias ressalvas sobre a obra, foi quem inspirou esse nome que aparenta luz - parabéns especialmente a queda do muro de Berlim. A queda de um muro que dividia uma nação arrasada por um governo nazista e meu nascimento coincidirem, não é uma coincidência é uma confluência como diria o velho nego Bispo. Logo que essa energia de união que reverbera na pessoa que eu sou se expanda hoje ao mundo, ao país e que possamos comemorar por aquele que consegue causar fissuras nas mais grossas colunas e construções. Vamos comemorar a festa do amor, a vontade de união ante as diferenças, comemorar a queda dos muros. E que assim seja, assim é e assim será!


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