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  • Foto do escritorTieta Macau

Quando quase desisti de dançar



Quando quase desisti de dançar. Quando eu repeti como mantra que deixaria de ser... Quando minha dança provou dos afiados chicotes e açoites que julgavam não dançar o meu dançar. Um dançar negro. Eu quase desisti. No circuito da Arte, a do maiúsculo A, a estratégia genocida é silenciosa faz minguar, escolhe a dedo quem fica e quem seca. Quando eu quase desisti de dançar... A vida se esvaíra um pouco. Senti que menos ria, e o chorar que antes me descia como rios que lavavam a alma, secaram. Quando eu quase desisti de dançar, eu me vi atada à correntes, o que me paralisava matava a abandono e a bala, a tráfico e a fome outro retintos mais ou menos como eu. Da negação a referência a artilharia cravada, a violência sobre um corpo negro da Universidade a favela, do palco a rua é a mesma, e com um estratégia focal: paralisar, drenar potências. Quando eu quase desisti de dançar eu escrevi num quadro:


"NUNCA ESQUEÇA O QUE É DANÇA PARA VOCÊ!"


Um dançar negra.


E por um ano todas as vezes que titubeei, essa frase em algum lugar me reverberou força. FORÇA. Dançar que de forma alguma se faz totalmente dizível. Um entre. Dançar que refaz o que em tempos se fragmentou. Dançar que em quase nada a sua fundamental necessidade em meus caminhos se resolve com cena... é um além mar que ainda estou a descobrir... Quando eu quase desisti... continuei a continuar, com mais firmeza.


Na possibilidade do encontro. Na possibilidade do cuidado... Na possibilidade de recuperar o que no trajeto forçado foi rompido.


E me pergunto


O que é dançar como uma negra?




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