Na curva vi areia, rodar mar, rodar terra. Ventava na outra banda, monção trazia notícias do povo de lá. Quando a saudade aperta corro pra ver soprar, e faço sopro palavra para ver Oyá girar. Rogo a mãe guerreira que venha, ventar, venta em mim.
O tempo do sopro é um gesto. Aceno de longe na beira, no templo Calunga da mãe, as ondas que por aqui beiram, beiram lá e beira o meio, de tantos que no meio ficaram, e de tantos que para cá vieram. Saudade que se inscreve no laço do que veio antes, e no laço e do que se faz agora. Nas imagens do lá que não vi e se agiganta no peito, lágrima. A mar de imensidão salgada lágrima, Calunga mãe saudade.
Quando a tristeza aperta corro pra ver soprar, e faço sopro palavra para ver Oyá girar.
Rogo a mãe guerreira que venha, ventar, venta em mim.
Ventar faz gesto que gira, a gira tontura que sopra, entre o lá e cá o fragmento do que não veio se refaz. No vento do gesto não se sabe, entre lá e cá, vira e bola. Banzeia, banzo rola, banzeiro grande na proa, e no gesto que vira e bola o fragmento que não veio antes se refaz.
Quando de força preciso, corro pra ver soprar, e faço sopro palavra para ver Oyá girar.
Rogo a mãe guerreira que venha ventar, ventar em mim.
E assim me faço espada e ventania.
Mandala Mandela - Cris Campos e Grupo Afrôs
Comments