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  • Foto do escritorTieta Macau

Anástacias

Atualizado: 21 de ago. de 2020

Açoite Verborrágico: afefé de lavagem - Padê

Laroyê,




Insistiram em tentar nos calar. Insistem em tentar nos calar. E por isso falo, deixo que desabe letras, palavras, palavras, seguidas de palavras.

Matraca, carapaça, apoti. Ganga Zumba, Malê, Afoxé, Curumin. Crateús, Caipora, Mugango, mamulengo. Cotoca, bandeco, pedreiro, cimento, brita, areia e pó. Dandara, Alquatune, Na agotimé, akotirene, Maria, Domingas,Raimunda, Kênia, Benim. Vassoura, senzala, mãe preta, juntó. Sete palmos jumento, terra preta desata nó. Bate cum bate tambor, capoeira, Zumbi, quilombo, palmares. Macaco, cajueiro, Upaon açú, Egito encantaria. Daomé, Guiné, Alaketu, Nigéria, Congo Benguela. Correntes, negreira, polícia dos sete mares, sete terras, sete encruzas, sete espadas, guerreiro lampião. Ogum Jorge Guerreiro, Bahia de São Marcos e Rei Sebastião. Jejê angola nagô, pindorama gandaia acabaca, Mailô, mailô, mailô. Bate tambor, bate atabaque. Ressoa caxixi e maracá. Farinha, farofa, mandioca, guajajara,tupi, guarani, canela, grajaú, camboa, rolinha voou, no rebento, da cura, dos mares de lua.Cacuriá eu vou.

Açoite verborrágico, pulso falante extraído à força e em luta da mão do feitor. Açoite verborrágico transcorrido em ações de cura.

Falar, falar, falar... falar até que as veias gramaticais se rasguem, até que todo o léxico se confunda e somente o meu ecoe, ecoe, ecoe... Ecoe nos ouvidos dos outros de mim e rasgue os tímpanos dos que me amordaçam!

Há muitos que não compreenderão, pois o léxico hegemônico nunca entenderá o meu, este aqui mesmo que se traduz em plural.

Voz de muitos. Voz de muitos. Muitos de mim em todos os planos e tempos. Pra trás e para frente e sempre ao lado. Em roda, em círculo. Na roda preta que remonta a dança das estrelas.

Falar, falar, FALAR!! Arrebentar da boca preta a máscara da Anastácia. Para que sua voz irrompa os céus e alcance os mares infindos com suas grandes ondas, pra que sua voz ressoe e faça desabar raios, trovões, remexa as larvas profundas dos vulcões e revire em tormentas rios e terras. Reverbere Anastácia!

Não calar até que todo corpo subalternizado possa então falar e também ser escutado. Falar até que a branquitude se racialize e desça do pódio que ninguém ergueu, até que os nossos deuses que dançam, acordem o chão com suas giras e derrubem todos os castelos e empresas coloniais. Feudos construídos de roubos e expropriações, impossíveis de serem indenizadas. Girar para curar, girar para balançar. Girar para desestabilizar.

Desestabilizar o poder. Desestabilizar o poder. Desestabilizar o poder.

Cada vida preta que foge das estáticas, que desvia o padrão e insiste em falar: Desestabiliza! Deixa em equilíbrio precário as coreografias da empresa patriarcal da branquitude.

Açoite verborrágico.

Anastácia sem mordaças, cuspindo chamas como a besta fera legada às corporeidades negras pela história manipulada. A diferença é que para nós a chama transforma, enquanto pra vocês a chama queima. Que seja queimado todo o rastro de branquitude, para então renascer a Amazônia e a terra sagrada dos Pindoramas.

Açoite verborrágico, aparição de fala e lavagem dos pés que dançam e enraizam. Lavagem como centelha de cuidado e cura aos corpos que pertencem ao arco íris, filhes da serpente encantada que atravessa Orun aiyê, às existências negras e pindorâmicas, a todas, todes e todos subalternizados que não se calaram, não calam e não se calarão. Às Anastácias sem mordaça.

Agô, Olorum, Yalôdê Yaô. Matinjalô aiyê





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